segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O que é a Psicoterapia Junguiana?

Por Gildean, em 29 de agosto de 2011.

O que é a Psicoterapia Junguiana?
PSICOTERAPIA: A VISÃO JUNGUIANA
                A psicoterapia é o tratamento do espírito, ou melhor, da psique, por métodos psicológicos (FORDHAM, 1978 p. 75), e, por isso, não é um método simples e evidente de trabalho. Pouco a pouco com a evolução , foi-se verificando que se trata de um tipo de método dialético, isto é, de um diálogo ou discussão entre duas pessoas, arte de conversação anteriormente utilizada por antigos filósofos com o objetivo de produzir novas sínteses.
            A psicoterapia é a interação entre dois sistemas psíquicos, do analisando e do analista. O terapeuta, nesta visão, não é somente um sujeito ativo, mas ele vivencia junto um processo evolutivo individual. (JUNG, 2009 p.1)
            Com o passar dos anos foram criados diversos métodos de psicoterapia, sendo que cada um deles baseia-se em pressupostos psicológicos especiais e produz resultados específicos, porém todos procuram estabelecer como meta terapêutica não só a conscientização dos conteúdos e as tendências causadoras das doenças, mas restabelecer no paciente sua condição humana natural e sem deformações.
            Grinberg (2003) relata que se costuma fazer uma distinção entre análise e psicoterapia, de acordo com o nível de aprofundamento, a intensidade, a freqüência das sessões e a duração do processo. Reserva-se o termo de análise para a “psicoterapia profunda” com o objetivo de investigar o inconsciente. Os dois termos também podem ser usados indistintamente.
O verdadeiro curso da análise é de difícil descrição. Tal como o processo de individuação, o curso da análise pode assemelhar-se a um meandro, o intricado motivo decorativo que sugere às voltas inesperadas e imprevisíveis de um labirinto. O curso da análise, tal como o curso da própria vida, encontra-se em contínua transformação, de acordo com a emergência imprevisível de novas e diferentes formas de ser. (HALL, 1995 p. 75). E, nestas novas formas de ser, encontra-se a essência do processo da psicoterapia:
“a psicologia analítica não é padronizada; não há uma atitude padrão que um terapeuta deva aprender ou absorver, passando em seguida a exercer o ofício de modo programado. Isso não é nem bom, nem mau, de um lado tem vantagens, de outro desvantagens. A inevitável desvantagem é sentir-se às vezes perdido, sem clareza a respeito do caminho a seguir. Não há modelo para quem escolhe essa via. A vantagem é que essa proposta permite a criatividade individual e a individuação do próprio terapeuta, abre espaço para que as transformações sofridas por este se manifestem na maneira como trabalha. Essa característica claramente diferencia a terapia junguiana  das outras formas de atendimento. A questão é delicada porque às vezes, uma má prática pode passar desapercebida como sendo uma análise junguiana normal, quando na verdade está sendo falha e mal fundamentada. De modo que é preciso ter alguns critérios bem definidos quando nos avaliamos a nós mesmos ou a trabalhos alheios. Essa dificuldade é devida à ausência de um formato claro e padronizado”. (GAMBINI, 2008).
            Dentro das formas terapêuticas ofertadas nos dias de hoje, tem-se a junguiana como uma das referências. Jung, médico psiquiatra nascido na Suíça, viveu logo após sua graduação uma intensa atividade científica na Universidade de Zurique, sob direção de Bleuler e marcou época nos estudos sobre associações verbais, e, logo em seguida a elaboração do conceito de complexos afetivos, seu primeiro marco na história da psicologia. Alguns anos se passaram e Jung visita Freud em Viena e estabelece uma estreita colaboração mútua entre eles. (SILVEIRA, 2000 p. 14-15).
            Após ler a Interpretação dos Sonhos interessou-se pela utilização dos domínios do sonho nos mecanismos do recalque. Porém no que concerne ao conteúdo do recalque, Jung não concordava com Freud. Como causa do recalque, era apontado o trauma sexual, o que ele achava insatisfatório. Através do seu trabalho prático conhecera numerosos casos em que a sexualidade desempenhara um papel secundário, o que para Freud, no entanto era uma realidade numinosa. (JUNG, 1985 p. 142). Seis anos mais tarde rompe com Freud e sua análise redutiva que enfatiza que os sintomas psíquicos somente em termos de impulsos sexuais infantis recalcados, o que exige aprofundar as neuroses até as suas raízes infantis, (FORDHAM, 1978 p. 75), mas o próprio Jung admite que esta visão possa ser aplicada a alguns casos. Na situação ideal, o analista junguiano seria capaz de engajar a pessoa perturbada numa análise redutiva se isso for indicado, ou naquilo que Jung determinou o modo sintético, o modo de compreensão simbólica e de síntese de elementos conflitantes entre si a serviço do processo de individuação, caso este se afigure mais apropriado. (HALL, 1995 p. 30).
            A visão junguiana concebe um todo psíquico coerente e significativo que existe num mundo no qual existem processos de crescimento a serem facilitados, assim como os processos de ruptura que devem ser tratados de modo responsável. Trata-se de uma visão de mundo que é atribuída à psique individual. (HALL, 1995 p 29) sem, no entanto, menosprezar o impulso sexual de Freud ou a vontade de poder de Adler se estes se revelarem ativos na neurose como já foi citado anteriormente. (FORDHAM, 1978 p. 75).
            Jung emprega o termo “Psicologia Analítica” para designar seu próprio método, que não é apenas um meio de curar, mas também para desenvolver a personalidade, através do processo de individuação. Como, porém nem todos os que procuram auxílio psicológico tem a finalidade de individuação estando em muitos casos objetivos mais limitados, Jung varia o tratamento consoante à idade, o estado do desenvolvimento e o temperamento dos pacientes. (FORDHAM, 1978 p.75)
            Em todos as análises da psicoterapia, Jung põe em relevo o fato dela assentar a relação entre dois seres humanos; e considera que isto é significativo, e perante este fato todos os métodos e teorias são secundários. O analista não pode às vezes deixar de pensar que esta ou aquela via seria melhor para o paciente; não tem, porém o direito de impor suas opiniões: a sua missão é ajudar o paciente a alcançar um estado em que possa descobrir por si próprio o seu modo de viver e a força necessária para pôr em prática. As teorias e métodos são simples auxiliares para chegar a este resultado. Jung comparou este encontro de duas personalidades (terapeuta e paciente) ao contato de duas substâncias químicas; se der uma reação qualquer, ambas se transformam. E, isto não é uma analogia vaga ou fantasista; faz parte dos pressupostos das investigações de Jung sobre Alquimia.
            Este processo de mútua transformação exige tanto do analista como do paciente a mesma honestidade e perseverança, a mesma disposição de mudar, e esta exigência é muito grave, pois em última análise o fato determinante é sempre a sua personalidade. (FORDHAM, 1978 p. 83).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. FORDHAM, F. Introdução à psicologia de Jung. São Paulo: Verbo: ed. Da Universidade de São Paulo, 1978.  
  2. HALL, J. A experiência Junguiana: Análise e Individuação. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1995.  
  3. GAMBINI, R. A voz e o tempo: reflexões para jovens terapeutas. São Paulo: Ateliê editorial, 2008.
  4. GRINBERG. Jung: O homem Criativo. São Paulo: FTD, 2003.
  5. JUNG, C. G. Memórias, sonhos e reflexões. São Paulo: Círculo do Livro, 1985.
  6.   JUNG, C. G. A prática da psicoterapia: contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. 12 ed. Petrópolis: Vozes, 2009.                 
  7.  SILVEIRA, N. Jung, vida e obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.          


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